Entrevista com Rodrigo Ferla na CBTKD

maio 14, 2012

Depois de uma história bem sucedida como atleta, Rodrigo Ferla é hoje técnico de Taekwondo em início de carreira, mas já com vários casos de sucessos. Em entrevista, este londrinense, que atualmente vive em Curitiba, relembrou os principais momentos – positivos e negativos – da sua carreira como atleta e falou do seu trabalho como técnico, deixando ainda a sua opinião sobre as mudanças que houve na Seleção Nacional desde a sua época até hoje.

CBTKD: Qual foi sua maior felicidade como atleta?

Rodrigo Ferla: Foram muitos momentos de alegria, como a final do Brazil Open 98, na qual lutei com o pé quebrado; a final com o atleta Márcio Eugênio, depois de ter feito 11 lutas (lutei no Juvenil, Adulto e Ranking Olímpico); o meu primeiro título nacional, que foi o Brasileiro Infantil em 1992. Mas, com certeza, que a maior felicidade foram as conquistas das vagas para a Seleção Nacional Juvenil, Adulta, Universitária e Olímpica.

CBTKD: E qual a sua maior tristeza como atleta?

Rodrigo Ferla: Infelizmente, tive uma tristeza na minha vida esportiva que foi o meu corte do mundial 2005 . Isso aconteceu dois dias antes do embarque para Madri. Ultimamente, houve alguns comentários sobre esse acontecimento e pessoas que nem estavam e nem sabiam dessa situação andaram dando opiniões e comentando fatos que não conhecem. Vou relatar que aconteceu para que os “intelectuais virtuais” de plantão entendam ou, no mínimo, antes de escrever, busquem o meu lado da história para poder ter coerência e racionalidade com o ocorrido. Em 2005, a Seleção Brasileira estava quase definida para o Mundial. Havia três categorias que seriam definidas: Até 54 kg (Gilvan X Reginaldo), até 63 kg (Márcio Wenceslau x Murilo Goulart) e até 72 kg ( eu x Carlos Costa). Tivemos uma concentração em janeiro de 2005, em São Bernardo, e nessa concentração ficou decidido que a definição aconteceria na concentração de março e que quem decidiria isso seria o Mestre Pan, pois ele era neutro e escolheria quem estivesse melhor. Em março, a Seleção se reuniu de novo. No meio dessa concentração aconteceu o Rio Open e o Mestre Pan foi para lá para passar os escolhidos à Comissão Técnica. Por ele, eu iria representar a categoria -72Kg , mas a palavra dele não foi aceita. Logo após o Rio Open, alguns técnicos brasileiros apareceram na concentração para observar um dia de treino e se reuniram entre eles e decidiram quem iria. Mais uma vez, eu fui escolhido e quem me contou isso foi o próprio técnico Carlos Negrão, pessoalmente. Mas, mais uma vez, de nada adiantou. Passados alguns dias, quando íamos começar uma sessão de treino, faltando menos de uma semana para o embarque, sem a lista oficial divulgada, apareceram de repente alguns árbitros e nos disseram que haveria uma seletiva pra decidir a vaga. Não poderia ter torcida, nem técnico, seriam somente os atletas na quadra. Todos ficaram espantados com a surpresa, mas fizemos a seletiva e nessa luta ganhei por 15 x 11, assim como o Gilvan e o Márcio também ganharam. Enfim, mais uma vez não valeu nada. Foram três decisões a meu favor e nada. Ainda assim, nada da lista. Depois de um treino à noite, faltando três dias para o embarque, o atleta Murilo Goulart falou com o seu técnico por telefone e o mesmo disse que estava para sair a lista e que meu nome não constava. Sabendo disso, fui falar com o técnico e com o preparador físico que estava com a equipe. O que alegaram foi que – quem entende de treinamento esportivo vai rir desse argumento – o critério de escolha foi o VO2, e mais, a diferença de VO2 era de 1%. E digo mais, qual é a interferência de VO2 para atletas de Taekwondo às vésperas de uma competição? Enfim, esse fica pra outro debate. Mas o que aconteceu foi que não houve conversa com eles e ocorreu uma grande discussão, na qual outros atletas da seleção se envolveram. Com essa tensão e esse clima péssimo, no outro dia quem apareceu lá logo de manhã foi o Coordenador Técnico, Marcelino Soares. Passamos a manhã inteira com todos os atletas e comissão técnica reunidos e, antes de ir para o almoço, ele falou para mim que iria analisar todos os fatos e que, no final da tarde, decidiria a equipe sendo a palavra dele definitiva. No período da tarde, conversamos a sós, eu e Marcelino, e ele me falou: “ Ferla, depois que você ganhou a luta, o Mestre Kim soube e me ligou dizendo – Estamos com um problema, o Ferla ganhou”. Com isso ele já disse tudo, eu não podia ganhar, pois havia uma vaga reservada e eu estava estragando isso. Mas, até então, eu acreditava no Marcelino e achava que isso vinha do Mestre Kim. Aí é que estava o engano, pois, quando algum tempo depois o Marcelino e o Mestre Kim foram colocados frente a frente e perguntaram sobre esse caso, não houve como fugir, e eu soube que quem havia reservado essa vaga tinha sido o Marcelino. Com isso tiveram que arrumar uma desculpa que foi o grande 1 % de VO2. Então grande “mestre – pioneiro do Paraná ” foi sim o Marcelino que cortou a minha vaga do Mundial, sem nenhum critério. E essa, com certeza, foi minha maior tristeza, pois isso foi uma grande decepção que quase fez com que eu parasse de lutar, chegando a abandonar o Brasil e indo lutar em Portugal. Então, para quem escreve e não sabe dos fatos, aí está o que ocorreu.

CBTKD: Como está seu trabalho como técnico hoje?

Rodrigo Ferla: Estou indo para o meu 5º ano em Curitiba e dois anos com uma equipe de competição. Estou tendo resultados satisfatórios nesse pouco tempo. Hoje tenho três atletas entre os três primeiros do ranking Nacional. Curitiba hoje briga por títulos nos Jogos da Juventude (espécie de Jogos Abertos na categoria Juvenil no Paraná). Em 2011 ficamos com uma medalha de ouro atrás de Londrina e Maringá. A única medalha de esporte individual nas Olimpíadas Escolares de Curitiba foi de um atleta meu. Disputamos, ano passado, o Argentina Open e fomos vice – campeão por equipe e, aproveitando, fizemos um treino e um amistoso com alguns atletas da seleção argentina. Minha equipe participou do Brazil Open com 76 atletas e foi campeã geral. Esse mês, dei início a um projeto junto à prefeitura de Curitiba de cinco polos de iniciação ao Taekwondo que vai atender 150 crianças e adolescentes em cada polo e que visa a busca de novos talentos para a modalidade.

CBTKD: Quais são as principais diferenças que vê na seleção Brasileira, da sua época para hoje?

Rodrigo Ferla: Acho uma boa ideia o sistema de Ranking, pelo simples fato que premia o melhor atleta, aquele que foi o mais regular durante o ano. As principais diferenças da seleção de hoje com a da minha época são os intercâmbios e o salário. Hoje a seleção participa dos melhores opens e isso faz com que os atletas enfrentem os adversários fortes e se preparem melhor. Além disso, na minha época o salário de atleta da seleção era de R$ 600,00 e hoje é bem mais. Se fosse hoje, com esse valor eu me dedicaria apenas aos treinos, já que naquela época tinha que treinar e dar aula para poder me manter.

CBTKD: Deixe uma mensagem aos leitores.

Rodrigo Ferla: Que todos trabalhem duro para nosso amado Taekwondo mudar e ser mais reconhecido. Vejo hoje uma nova CBTKD criando Ranking, novo site, projetos aprovados no Ministério, coisas que não se viam antes. E muitos só pensam em denegrir o nome de nosso esporte, em vez de trabalhar e produzir para o Taekwondo. Peço que abram suas ideias, reclamações e críticas dentro das salas onde têm suas assembleias, pois lá se encontram sempre um grande número de federações. Peço também que prevaleça a democracia!

Perfil do Atleta:

Nome: Rodrigo Ferla Martins
Idade: 31
Estado Civil: casado
Filhos: 2 filhas
Cidade natal: Londrina /PR
Onde vive hoje: Curitiba/PR
Com quantos anos começou a treinar: 8 anos de idade
Principais títulos como atleta:
– Tetracampeão no Brasileiro Juvenil;
– Tricampeão na Copa do Brasil;
– Campeão no Circuito Brasil Olímpico;
– Bronze no Campeonato Pan-americano – Equador;
– Bronze no Festival Yeosu – Coréia;
– 5 anos na Seleção Brasileira adulta;
– Atleta reserva Jogos Olímpicos 2004 Atenas.

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